domingo, 3 de outubro de 2010

Só azul?

"(...), e então esforçava-se por meditar - meia hora ou dois anos e meio? - na maneira de dizer simplesmente, em poucas palavras, o que é o amor. "Uma imagem como esta é evidentemente falsa", argumentava, "pois nenhuma libélula, a não ser em circunstâncias especialíssimas, poderia viver no fundo do mar. E se a literatura não é a Esposa e Companheira de Leito da Verdade, que vem a ser, então? Maldito seja tudo isso!" gritava, "por que dizer Companheira de Leito, quando já se disse Esposa? Por que não dizer apenas o que se quer dizer e nada mais?"
Procurou então dizer que a grama é verde e o céu é azul, propiciando assim o austeroespírito da poesia a quem, embora de uma grande distância, não podia deixar de reverenciar. "O céu é azul", dizia, "a grama é verde." Levantando o olhar, viu que, ao contrário, o céu é como os véus que mil madonas tenham deixado cair dos cabelos, e a grama se desvanece e obscurece como um voo de raparigas esquivando-se, por encantados bosques, ao abraço de sátiros peludos. "À fé de quem sou!", disse (pois tinha caído no mau hábito de falar em voz alta), "não vejo que uma seja mais verdadeira que a outra. Ambas são absolutamente falsas." E perdeu as esperanças de poder resolver o problema do que é a verdade, e caiu numa grande prostração.(...)"

- Virginia Woolf, Orlando

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Chorar em filmes é bom...

Eu odiava quando via gente chorando em filmes. Achava o cúmulo da frescura. Eu tinha o orgulho de bater no peito e dizer que nunca havia chorado em nenhum filme. Mas isso, conforme passaram-se alguns anos, foi mudando devagar. Hoje acredito que chorar em um filme - nas partes especiais - não é sinal de frescura, ou fraqueza, ou qualquer coisa do gênero. Chorar em uma cena especial é, por um momento, entrar em total contato com a mensagem que quer ultrapassar as telas, é encontrar-se com o próprio íntimo, resgatar a própria sensibilidade (que diariamente nos é embutida para dentro do estômago até quase sumir) e, de alguma maneira, evoluir. Mesmo que se evolua minimamente, mas algo sempre muda dentro de quem chora, seja diante de um filme, de um desenho, de uma pintura, de uma peça de teatro, de qualquer forma de arte, ou qualquer coisa parecida.
Ultimamente tenho chorado em todos os filmes bons que assisto. Um deles foi Avatar, outro foi Hair, houveram vários, mas hoje quero falar especificamente de "UP! - Altas Aventuras". [Preciso ressaltar que sou grande admiradora da maioria das produções da Disney? Pois bem, eu sou e (tirando um curto período de babaquices da minha pré-adolescência), sempre fui. Recortando para a Pixar, creio que Toy Story tenha sido o primogênito, e desde então os filmes lançados têm sido cada vez mais impressionantes.] Agora devo dizer: se você ainda não assistiu UP, pretende assistir e não gosta de spoilers, melhor parar de ler por aqui.

Enfim, quero descrever uma das cenas que mais me emocionaram até hoje.

Como faz um tempinho que vi, não me lembro de todos os detalhes. Mas a mensagem ficou. Acontece antes do clímax final, depois que o Sr. Fredricksen teve de escolher entre apagar o fogo que consumiria sua casa ou salvar o pássaro Kevin, optando impulsivamente por salvar a casa. Depois de discutir com Russel (que por fim não se conformou e foi embora procurar o vilão e a Kevin), ele entra em sua casa e senta-se em sua poltrona, satisfeito (ou se esforçando para se sentir assim). Enfim, sua meta fora cumprida - ele havia colocado o "clubinho" no lugar em que sua falecida esposa sonhava visitar e se estabelecer. Pronto, era o que queria desde o começo, estava realizado. E sozinho. Ele sabia que havia feito a escolha errada, mas não queria admitir para si mesmo. Depois disso ele resolve folhear o diário de criança de sua esposa. Foi até a última página escrita, a que se referia ao clubinho, e parou, como sempre fizera.De repente uma rajada de vento vira a folha, ele então descobre coisas ali que nunca tinha visto e que nunca poderia imaginar. Era um diário de aventuras, e lá estavam as próprias aventuras dela: o casamento, os bons momentos da vida, os bons momentos que passara com ele, seu esposo... Ela vivia a vida intensamente, enquanto ele estava preso ao passado, tentando - exatamente - realizar um sonho morto. Não queria abandonar os objetos que remetiam à esposa. E tão preso estava, que precisava carregar a casa inteira consigo. Naquele momento eu tive certeza, se a esposa dele ainda estivesse viva, ela não cruzaria os braços confortavelmente em uma poltrona, ela tentaria ajudar o Russel e salvar a Kevin: isso é que seria a verdadeira aventura - não o antigo sonho de criança. É quando você se pergunta "Que valores são esses que se limitam apenas a objetos nostálgicos?", então o filme grita pra você "Pois pare de se prender aos seus objetos e ao seu passado, faça algo significante." Nessa parte, não me lembro, acho que o Sr. Fredricksen começou a chorar. E eu também...










Quem assistiu o filme vai entender.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Surpresa em filme 3D

Hoje fui ao cinema com meus pais assistir Avatar em 3D. Não tinha visto trailer, não tinha visto nada. O primeiro (e único) filme em 3D que eu havia assistido até então era Viagem ao Centro da Terra, um filme que, ao meu ver, foi feito exclusivamente para o 3D e mais nada, porque tem bons efeitos, gente bonita e só. Pensei que Avatar seria mais ou menos desse tipo, achei que o sucesso de bilheteria era mais um escândalo. (Mas devia ter algo mais pra bater Titanic...) Na verdade, só fui ver esse filme porque queria mostrar aos meus pais que filmes em 3D são bonitos, porém jurava que era o típico bonito e sem conteúdo.
Mas me surpreendi.


Avatar é sim lindo visualmente, mas também é lindo emocionalmente. Mostra um equilíbrio com a Natureza tão maravilhoso que não me contive e chorei o filme inteiro. Algo que nunca tivemos em nosso planeta, e nunca vamos ter. Se um dia, no futuro, nossa tecnologia chegar a um planeta como Pandora, duvido que seja diferente do que é mostrado no filme. Uma coisa que os seres humanos em conjunto sempre souberam fazer é destruir por motivos próprios. Foi assim por toda a História e provavelmente vai continuar sendo. Torço pra que hajam mais pessoas como Jake e os amigos dele.


Outra coisa, sempre presto atenção no papel das mulheres de todos os filmes e livros e qualquer história a que tenho acesso. O que me deixou contente com esse filme foi que não havia nenhuma frágil donzela em perigo. Todas as mulheres eram fortes. Elas não precisavam que um príncipe de armadura brilhante as salvasse, sabiam se virar e eram decididas. Tanto terráqueas, quanto as mulheres do outro planeta, elas participavam das batalhas e exerciam forte influência sobre seus grupos. Não estou dizendo que eram melhores do que os homens. Estou dizendo que homens e mulheres estavam como iguais.
Além disso, Neytiri, a que faz par romântico com o protagonista, salva o protagonista. Várias vezes. Difícil ver o herói ser salvo por uma mulher. Espero que isso se repita bastante nos filmes mais recentes, já que a porcentagem de machismo abaixou um pouco no decorrer dos anos.


Aliás, não vi machismo, nem coincidências, nem absurdos no filme. É ficção, mas completamente plausível. É cheio de efeitos visuais, mas também cheio de mensagens e sentimento. Eu penso: se a equipe produtora tem condições de fazer um filme desse tamanho, por que não colocar conteúdo? Pois Avatar uniu beleza e conteúdo. Recomendo mil vezes.












Se eu pudesse conhecer a equipe produtora, eu apertaria a mão de cada um deles e berraria OBRIGADA!