"(...), e então esforçava-se por meditar - meia hora ou dois anos e meio? - na maneira de dizer simplesmente, em poucas palavras, o que é o amor. "Uma imagem como esta é evidentemente falsa", argumentava, "pois nenhuma libélula, a não ser em circunstâncias especialíssimas, poderia viver no fundo do mar. E se a literatura não é a Esposa e Companheira de Leito da Verdade, que vem a ser, então? Maldito seja tudo isso!" gritava, "por que dizer Companheira de Leito, quando já se disse Esposa? Por que não dizer apenas o que se quer dizer e nada mais?"
Procurou então dizer que a grama é verde e o céu é azul, propiciando assim o austeroespírito da poesia a quem, embora de uma grande distância, não podia deixar de reverenciar. "O céu é azul", dizia, "a grama é verde." Levantando o olhar, viu que, ao contrário, o céu é como os véus que mil madonas tenham deixado cair dos cabelos, e a grama se desvanece e obscurece como um voo de raparigas esquivando-se, por encantados bosques, ao abraço de sátiros peludos. "À fé de quem sou!", disse (pois tinha caído no mau hábito de falar em voz alta), "não vejo que uma seja mais verdadeira que a outra. Ambas são absolutamente falsas." E perdeu as esperanças de poder resolver o problema do que é a verdade, e caiu numa grande prostração.(...)"
- Virginia Woolf, Orlando
domingo, 3 de outubro de 2010
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